sábado, 15 de junho de 2013

Laura Marling - Once I Was An Eagle (2013)


Gênero: Folk
Similares: Qualquer compositora de vinte e poucos anos que tenha lançado seu debut na década passada. 


Tenho algumas teorias acerca de como este álbum novo será recebido por grande parte das pessoas. Elas vão ver a capa do disco e comentar algo sobre a “crueza” do som. Vão estabelecer algumas conexões com o andamento do folk (melhor: o indie folk!) moderno, e dizer que ela é “talentosa”. O “talento” vem, sobretudo, da forma com que ela “dialoga com vários de seus próprios personagens”. As pessoas vão, também, mencionar a idade dela e, de uma forma bastante sexista, os ex-namorados. As comparações, partindo daí, virão na forma de Bob Dylan e, de uma maneira ainda mais agressiva, Joni Mitchell. Vão chamá-la de profissional, admirar o songcraft, a forma com que ela pensa. E vão, acima de tudo, deixar o disco lá, quieto e sem muita utilidade, ou, pior: deixar o álbum ocupar algum espaço no hard drive até que uma lista de fim de ano, lá no final de novembro, force o sujeito a escutá-lo mais uma vez para uma “revisita” de emergência. É assim que sempre funcionou para Laura Marling. Sempre desiludida, assim como as figuras e personagens de suas canções. Uma barreira funcional existe entre quem acredita que Laura Marling é só uma da safra de compositoras que tomou conta do imaginário do freak folk (R.I.P) na década passada.

É possível imaginar estas respostas graças ao estado do folk atual: a versão de festival que o Mumford & Sons tem garantido com a retórica de estádio segura deles, e a música preciosa que se ouve nos cafés. Música para escutar de longe. E, ainda seguindo a pior das hipóteses, o revival sem insights do The Lumineers.

No novo disco, Once I Was An Eagle, Laura coloca mais uma barreira ainda: quase que num exercício de criação de mundos distintos ou somente teimosia na composição, Marling vai a um lugar distinto sem paradeiro, num marco sem tempo e quer ir sozinho. É o máximo da abstração que ela já criou num disco. É um álbum que funciona na base do desconhecido, do atemporal, para que a única certeza que o ouvinte tenha é a de que ela não será uma “vítima da circunstância” nas palavras dela na segunda faixa, que dá parte de seu nome ao disco, “I Was An Eagle”. 

Tudo isso pode parecer mais um álbum na linha de A Creature I Don’t Know, o máximo de segurança sonora a que ela já chegou, mas Once I Was An Eagle inova no sentido de precisar ser escutado como um álbum finalmente. Canções são retalhadas somente por convenção, drones são inseridos, personagens são reintroduzidos em momentos diferentes do álbum, justamente para que tudo faça parte de uma peça única, indivisível. 

Isto, a capacidade de Laura de criar temas que se repetem numa trama de uma fita, é importante para reconhecer que Marling finalmente conseguiu ser uma mestre no estudo de personagens. A Laura de Once I Was An Eagle é diferente de tudo o que nós escutamos e pudemos acompanhar até agora. A Laura deste álbum pode nem ser a real, mas uma pergunta desses, agora, nem faz sentido e nem precisa existir primeiramente. Desta forma, não é tão difícil criar uma comparação entre este álbum e Tramp de Sharon Van Etten, em que as coisas ficavam melhores, ou simplesmente mais interessantes, quando não eram explicadas.

O álbum, como Tramp, é melhor escutado como uma jornada que não leva a lugar (um exemplo está na crescente “Where Can I Go?”, possivelmente a faixa mais esperançosa do álbum), até porque, lembrando, ela não quer nenhum acompanhante. Ela só quer ir, mesmo sem coesão ou rumo bem definido.

A heroína é corajosa obviamente. “Master Hunter” é o exemplo mais claro disso. Citando Dylan, o que pode ser visto ou como uma provocação aos que só vêm nela uma imitação, ou sarcasmo (a forma com que ela repete “I am a master” deixa isto bem claro), a faixa é uma exceção à falta de certeza do disco e por isso um single excelente: para Marling, a água não faz o mesmo que fazia antes. Agora é trabalho do ouvinte encaixar isto ao refrão de “It Ain’t Me Babe” e ter algum sentido fora de um revival sem grandes pretensões (olá de novo, The Lumineers).

Mesmo assim, esta é uma exceção. Talvez por isso a melhor faixa do disco tenha sido uma das primeiras liberadas para audição. É “Where Can I Go?” e está perdida na segunda metade do disco. É um clichê para ajudar a entender a metáfora que é Once I Was An Eagle, um álbum que pode ser entendido como uma trajetória sem rumo ao certo. Assim sendo, o verso que define tudo é bem simples até: “All I see is road.” Laura Marling diz isto com a convicção não de quem tem a vida inteira pela frente, mas com a de quem está realmente perdido. Parabéns a ela por ter finalmente aprendido a diferença.


8.4 [RECOMENDADO]

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