domingo, 14 de julho de 2013

Sally Shapiro - Somewhere Else (2013)

Gêneros: Synthpop, Italo disco
Similares: Valerie Dore, Glass Candy, Lindstrøm


Desde o início da carreira, Sally Shapiro tem sido conhecida por uma personalidade tímida (e tida como afável por alguns). Ela colabora exclusivamente com Johan Agebjörn, que produz o que pode se chamar de um revival de disco melancólico, formando um duo. Sally não realiza shows e nem fala sobre seu nome verdadeiro. Juntos, há uma espécie de junção de Bette Midler com Tracey Thorn.

É fácil fazer tais asserções a respeito de Sally Shapiro quando os discos praticamente clamam por essas conclusões tão rápidas. O habilmente nomeado Disco Romance, de 2006, foi tido na época como uma volta bem-sucedida ao Italo disco (para depois a Italians Do It Better tomar o gênero para si própria). My Guilty Pleausure, se não tinha a mesma força do anterior, tinha “Miracle”, a canção que a colocava, de uma vez por todas, ao lado de artistas que, de uma forma ou de outra, seguiam uma geração que tinha aprendido a amar Foxbase Alpha. E não se pode culpar alguém simplesmente por nostalgia.

Em Somewhere Else, o novo disco do duo, nós somos forçados a fazer algumas perguntas incômodas para pelo menos um dos lados. Depois de três discos, mesmo com todas as comparações com a evolução de um nicho, o Italo disco, que era tido como morto até a primeira metade da década passada, é comum começar a perguntar quais são as motivações de um duo sueco. No novo disco, é fácil afirmar: o foco de Somewhere Else não reluz nas construções de Johan, como sempre foi, mas na voz de Sally e as letras que, de novo, Johan compõe. Somewhere Else não é um disco de Italo disco, no sentido restrito do termo, mas também não é um disco de composições meta acerca de paixões de verão e, ao mesmo tempo, planejar uma vida (“Architectured Love”.) É um raro intermediário entre “discos para fones de ouvido” e álbuns monumentais, sobre grandes e pequenas questões, de Carole King por exemplo.

Como um álbum que não consegue escolher entre os dois lados, o tom ensolarado contra o lirismo inquieto de Johan, Somewhere Else tem bons frutos vindos desta contradição. “I Dream With An Angel Tonight”, a melhor do disco, vem cedo, mostra o que o disco poderia ter sido se Sally não tivesse se preocupado só com a atmosfera e se esquecido do formato das canções no restante das canções. Isto demonstra que as melhores do álbum surgem como europop robusto e claro (“All My Life”), e não como tentativas de captar lembranças nostálgicas, que foi, ironicamente, o objetivo daquele revival do Italo disco da década passada.

Naturalmente, Somewhere Else fica como um projeto de disco de um duo que arrasta uma paisagem bucólica (repare na capa) como mandamento estético e só. Há quem entenda a mensagem, a catarse que é proposta, mas fica a pergunta clássica acerca da validade de canções que precisam de contextos ou lugares muito específicos: quando o lugar foge da regra, o que acontece com o disco senão perder a graça?

Recentemente, revisitei alguns clássicos do Saint Etienne como apoio para este texto e o que mais me intrigou foi uma (aparente) semelhança de capas e sonoridade de Somewhere Else com Foxbase Alpha. São ambas duas garotas. A primeira, Sally, segurando um guarda-sol, num campo, dizendo nada. A menina do Saint Etienne, que segura uma placa, pelo menos parecia ser contra os yuppies e, paradoxalmente, também parecia sorrir o suficiente para logo depois rir das nossas caras. Um retrato bastante exato de Foxbase Alpha. É desta falta de postura que sinto falta em Somewhere Else, um disco de um duo que tem tanta certeza de suas verdades que chega a pensar que seguir à risca um período histórico, de forma tímida, já é o suficiente.



4.7

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