sábado, 20 de julho de 2013

Yung Lean - Hurt (Faixa)

Em que Danilo Bortoli esquece de tomar os remédios para controle de raiva.

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Danilo Bortoli [0]
Sinais e passos de que nós nos perdemos em referências estéticas em algum momento da nossa existência medíocre e, de quebra, colocamos a crítica na merda: Alguém decide por acaso que dizer quão legal eram os anos noventa. Outras pessoas acham o mesmo e, em algum momento, decidem que a internet é um bom campo para a disseminação desse vírus que alguns chamam de ideologia. A internet revida e algum idiota num fórum de um site de tecnologia decide inventar o termo "apropriação cultural". Outro idiota que ainda não tem permissão legal para beber percebe que ainda não teve a brilhante ideia de dizer quão bacana Pokémon era. Isto se espalha e alguém usa sua Mark III para filmar o que se chama de clipe para pessoas que sabem que o Candy Crush é só uma cópia estúpida do Bejeweled. Yung Lean posta canção em que rima sobre Burial. E, em algum lugar, alguém está "extremamente nostálgico" sobre o ano de 2003.

Felipe Reis [8.5]
A primeira coisa que devemos notar em "Hurt" é seu clipe 札幌コンテンvaporwaver, um clash de detritos digitais e cultura nerd noventista que faria os olhos de qualquer membro do staff da Tiny Mix Tapes brilhar. Passado o impacto das imagens, sentimos a faixa: um swag rap internético feito por um adolescente sueco de 16 anos. É o tipo de situação alienada, onde um garoto branco europeu se apropria do estilo dos suburbios americanos para gerar uma piada virtual. Talvez pelos limites quase inexistentes do rap, o nicho permite que esse tipo de brincadeira tenha alta expressividade, muitas vezes garantida pela união de um flow inesperado com uma produção que distorce nossos sentidos. Até memes tem chances de brilhar quando bem feitos, o #sadboyz de Yung Lean é o mesmo caso do #based de Lil B e do #basic #bitches da Kreayshawn. O cloud rap atmosférico da faixa (tão belo que chega perto, muito perto de "I'm God" do Clams Casino) e suas batidas penetrantes tomam conta e justificam o ritmo vagaroso e amador de Yung, dando expressividade às suas rimas que tentam construir esse universo depressivo virtual (o "Ima make you hurt" é impactante, de certa forma) em que drogas e referências à Pokémon coexistem. É um reflexo da geração das imageboards mais fiel do que a felicidade e esperança que o Lil B prega de sua forma #rare. Muito possivelmente o sueco ou irá explodir e chegar à superficie da internet, ou irá sumir e ser lembrado pelos poucos que tiveram acesso a ele - é assim que um meme funciona, afinal. No momento, no entanto, "Hurt" se mostra uma faixa incrível que desafia nossas noções de rap, piada, virtualismo, apropriação cultural e inovação. Está longe de ser o rap do nicho mais lapidado do ano, só que a falta de sentido e contexto aqui torna a coisa mais sincera e interessante que tudo que escutei dos jovens raivosos do drill por cima das bases de trap que já se tornaram repetitivas. #ThankYouBasedYung. ☹☹☹☹☹☹☹☹☹

Pedro Primo [8]
Por que não?

Ramon R. Duarte [6]
Não seria tão frio e direto a ponto de reduzir o mérito do que esse garoto sueco faz nessa sua obra (vídeo e música). Algo que, sim, poderia ser somente mais um produto memético instantâneo da era saudosista pós-internet; no entanto, o que discerne a possível piada iminente de algo minimamente sério ou de ínfimo valor artístico é notar que a apropriação cultural feita por Yung Lean consegue, ao mesmo tempo, transfixar a linha do retrato da efemeridade que sustenta um meme com a resposta direta ao zeitgeist digital já incorporado com naturalidade nos tempos modernos. Yung faz um gangsta rap à sua maneira, com o seu real influxo, estranho seria se fosse diferente. Velharias internéticas, acessórios de games um tanto ultrapassados e bugigangas similares assumem o contexto como fonte de sua inspiração nostálgica – e convenhamos, um tanto debochada. Deboche que, não fosse o amadorismo de suas limitações óbvias – a batida genérica, ainda que viciosa, oscila entre o convencional e contagiante -, assim como o descompromisso um pouco preguiçoso a permanecer na sua condição segmentada de nicho virtual, faria de “Hurt” algo maior e que poderia muito bem obter mais do que pretende – se é que há alguma pretensão nisso. Mesmo assim, ainda consigo enxergar e escutar no manifesto caseiro de Yung Lean um resquício de videoarte à lá Nam June Paik, certamente algo maior do que qualquer mero viral de internet.


5.6

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