quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Lady Gaga - Applause (Faixa)

"I'm afraid that if you look at a thing long enough, it loses all of its meaning"
- Andy Warhol


[Escute]



Ramon R. Duarte [1]
Vaia.

Felipe Reis [2]
Existe a Lady Gaga que é visual/conceito e existe a Lady Gaga que é música. Esses dois lados sofriam com uma falta de sincronia até a chegada de Born This Way, um disco que, pro bem ou pro mal, carregou vários momentos de pop excêntrico com suas referências oitentistas. Eu sei que ela já fez singles grandiosos antes dessa sincronia acontecer - o pop é uma caixinha de surpresas, afinal. O foco aqui, no entanto, é que ela está dessincronizada novamente e sem o tato para tirar algo positivo desse estado: enquanto existe muito conceito e muito visual "fora da caixa" (ainda que uma colagem, como sempre), "Applause" não passa de uma faixa electro genérica de rádio, inexpressiva e sem identidade alguma. Mais uma vez a moça se debruça sobre o tema da obsessão pela fama e "arte", só que sem o charme de uma "Paparazzi" (que foi um single ok, na melhor das situações) a faixa sucumbe a uma auto-paródia vergonhosa. "I live for the way that you cheer me and scream for me, the applause, applause, applause", brada ela vendo em si mesma uma profundidade que nunca existiu (e nunca foi necessária). Gaga, eu pensei que você era mais esperta que isso.

Julio Pio [1.5]
Mesmo não levando em conta uma melodia tão genérica quanto um filler da Rihanna - englobe aí as batidas, a estrutura e o clímax - Applause soa como uma masturbação egocêntrica. Estamos falando de um lead single, uma música que nos dá uma amostra do que vem por aí - o ART POP, que ela brada aos quatro ventos como uma "experiência warholiana reversa". BALELA . Ela quer jogar a crítica para segundo plano porque está lá esperando o gongo soar, ela fala de como gosta do aplauso, de como ela achou o caminho certo. Ela, ela, ela. Soa muito mais como uma catarse do que a Gaga realmente é x Gaga vende. Se Kanye West é a encarnação do próprio megalomaníaco psicótico que acredita ser o dono do mundo - a ponto de criar álbuns concisos o bastante pra acreditarmos nessa viagem maluca - Gaga é o psicopata maluco que disfarça seu jogo de personagem com um trapo ou outro feito de carne - e quando tudo mais falta, vemos a face real do artista por trás de tanta pirotecnia. Aqui ela não é só a Mamãe Monstro que vive pelos seus filhos - em seu discurso aqui ela assume a posse de um rebanho que a segue, um cordão umbilical regado a idolatria e marketing. Tudo é sobre ela, não há espaço pra dizer que você é especial porque nasceu desse jeito. E infelizmente não há espaço pra canções tão boas quanto aquelas sobre dar um fora pelo telefone. "Now art's in pop culture, in me!" - tem certeza? 

Danilo Bortoli [5]
"I live for the applause": esta é uma canção sobre fama. E isto não é nenhuma novidade quando uma das melhores canções de Lady Gaga chama-se "Paparazzi". Mas, em 2008, a situação era diferente. Melhor dizendo: o contexto era o inverso. Ela tinha algum crédito para falar da cultura das celebridades porque, acima de tudo, ela podia ser considerada uma social climber sem nenhuma vergonha disto. Você não pode culpar alguém por um ato quando ela mesma não dá a mínima para isso. Esta é a regra dela. Junte isto a um discurso (agora um tanto quanto utópico) sobre Andy Warhol e você tinha uma espécie de gênio. Mas "Applause" leva a discussão a um outro lugar, a um outro patamar. A fama de Gaga é diferente. E o foco aqui também é diferente. Não há desdém. Nem críticas aos aplausos. Ela idolatra uma cultura quando ela deveria estar a revertendo. Muito menos observações. Até um certo ponto, faz com que eu me questione se o significado da palavra "pastiche" pode ser utilizado para descrever de forma positiva a canção aqui. Resumo: não, não pode. Em uma analogia, "Applause" é o The Bling Ring ou The Canyons da música pop de 2013. Você visualiza bem a mensagem e o exemplo: demonstrar o vazio através de personagens que vão e voltam num mesmo campo para sempre retornar ao campo de início. E o pior nem é isso. Assim como em The Canyons, a mensagem nunca é bem entregue porque nunca há profundidade suficiente. Não porque é um erro do filme em si, mas porque não há profundidade o suficiente para ser mostrada na cultura da celebridade.


2.3

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