terça-feira, 28 de maio de 2013

Charli XCX - True Romance (2013)

Gênero: Pop 
Similares: Grimes, Robyn, sua boyband favorita da década de noventa


Escutei uma canção de Charli XCX pela primeira vez na metade de 2011. Foi “Stay Away”. As primeiras comparações que consegui realizar foram bastante tímidas. A com o The Cure foi a mais expressiva. A Charli XCX de “Stay Away” não tinha só a melancolia de praxe. Ela também, como muitos dessa geração que subverte a divisão entre indie e mainstream (mais um mito que deve ser derrubado, anote), entende a estrutura mais básica de uma canção pop. Como nenhuma outra canção em 2011, “Stay Away” foi um símbolo de perfeição pop.
A perfeição, no caso, é simples: embora Charli trabalhasse, inicialmente, com a estética anos oitenta do The Cure, ainda havia uma sensação de DIY nas canções. Colocado de forma mais apropriada: tanto sentimentalismo adolescente poderia justificar uma comparação com os melhores filmes de John Hughes e suas personagens que esperavam por confissões desesperadas.
Esse molde do trabalho de Charli foi quebrado logo em 2012, logo com o lançamento de “You’re the One”, a canção que mudou a forma com que Charli conseguia construir uma canção. Não havia mais a claustrofobia clássica do modelo anterior. “You’re the One” funcionava, também, com um refrão gigantesco por trás e uma produção que conseguia sustentar tanta pompa por mais de quatro minutos de, novamente, perfeição pop (alguns alegaram, na época, que “You’re the One era melhor que “Call Me Maybe” — com alguma razão.) Porém, se a tática de criar canções gigantescas continuou a mesma, as referências mudaram: com o lançamento de “You’re the One” e, posterior a isso, a mixtape Super Ultra (com uma canção com uma rapper que nem merece ser mencionada), as referências mudaram; a atenção que Charli dava às suas influências passou de todo o exagero em melancolia dos anos oitenta para a estética excessivamente futurista dos anos noventa que, querendo ou não, entrou em choque com o pop bubblegum do fim daquela década. Dessa forma, Charli pode representar, muito bem, a melhor das contradições de duas gerações no pop contemporâneo. Tudo isto, junto, soa como um post nostálgico dos anos noventa no Tumblr.
True Romance, o debut de Charli, soa realmente assim: um exercício bastante completo de tentar entender como o pop pode caminhar na geração da nostalgia descartável (Instagram) e posts sem contexto (Tumblr) sem perder a identidade. Se o pop, por si só, tem a característica, inerente a si, de guardar, como uma fotocópia, uma impressão do que acontece ao seu redor, como fica a questão da nossa aparente desilusão com formas mais completas de entendimento? Como fica, enfim, o nosso processo de criação do pop?
True Romance é ótimo porque ignora todas estas questões e as toma para si como secundárias e não muito importantes. Não há o overthinking geral de outras candidatas a um lugar ao sol do pop (olá, Sky Ferreira). Só há uma demonstração de como criar canções realmente excelentes dentro de um esquema já previamente estabelecido lá em 2011. Se Charli acaba soando como uma resposta para o nosso capitalismo social, é por tabela.
Tenho escutado True Romance quase que num piloto automático. Ele tem sido um disco de cabeceira porque tem todas as características do pop que eu amo, e eu sei que este tipo de tratamento ao disco pode ser muito bem atacado por quem ainda acredita na ideia rockista de um “álbum”. Mas, convenhamos, o pop nem precisa mais desse modelo.True Romance é o equivalente do crossover entre o indie e o pop. E o melhor é que você nem precisa estar ciente disto para gostar de pop.
8.0 

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