Gênero: Country, Pop Similares: Carrie Underwood, Miranda Lambert, Pistoll Annies, Ashley Monroe
Nunca fui um fã confesso de country. Talvez, só mesmo em 2013, eu tenha me dedicado ao que fazem de melhor em Nashville além da discografia de Johnny Cash. Devo esta mudança um tanto quanto dramática à ala popista do Tumblr e também ao que eu chamo de #foraelitismo (sim, como uma hashtag.)
Mesmo assim, eu também não tinha grandes pretensões para este disco de Kacey Musgraves. Ela tem as mesmas características de quem participa de um show de talentos menos bizarro do que os do Reino Unideo. Sua história não é nem um pouco peculiar. Talvez seja por isso que ela resolveu fazer country e eu decidi não subestimar o que ela faz de melhor. Kacey também vem de um lugar pouco particular, Mineola, Texas, e decidiu ir para Nashville, assim como todos os que partilham de um sonho, às vezes utópico, em comum: cantar e compor acerca da vida americana.
Dito isto, pode parecer que Kacey, e por conseguinte, os melhores compositores do que pode ser determinado como um crossover entre o pop e o country, faz algo fácil. Relatar a vida pacata da classe média rural americana pode ser sim um exercício enfadonho, e é por isso que alguns gostam de admitir, de vez em quando, que, como críticos, há o aspecto overrated do que Kacey faz. Mas Same Trailer Different Park, enquanto um álbum, subverte todas estas características. O disco é umtour de force acerca do tédio que vem das tradições e dos costumes acumulados entre gerações. E, quase que numa experiência meta, sobre a beleza que surge quando tais tradições, inclusive no country, são quebradas.
Eu consigo entender a Kacey que transgrede as regras e, ao mesmo tempo, critica as tradições com algum grau de saudosismo. Same Traileré um álbum sobre crescer e tentar amadurecer num ambiente pouco favorável à construção de uma personalidade artística realmente única. E é possível identificar-se com a Kacey que enumera as limitações de sua vida pacata em “Merry ‘Go Round,” a obra-prima e peça principal do disco. Same Trailer é, novamente, um disco de dupla virtude: é uma prova concreta de como é possível encontrar arte (ou pelo menos construí-la do zero) logo em casa.
O melhor do disco de Musgraves é, porém, como ela encontra otimismo nos laços familiares, mesmo os relatando com um tom cínico. É este o espírito da já citada “Merry ‘Go Round”, um testamento de como “pó nós nos estabelecemos nesta cidade” ou como “nós ficamos entendiados e nos casamos.” É um retrato exato e triste, mas que ainda carrega grande afeto.
É neste sentido que eu invejo (e acredito que todos devem invejar) Kacey. Ela consegue retirar virtude das situações mais banais do que é crescer no Texas. Ela consegue, em pelo menos uma canção no disco, “Follow Your Arrow,”, resumir, sem entrar em nenhum clichê vergonhoso, o que é sentir represálias numa cultura extremista.
O álbum, nesse sentido, foca, constantemente, no tédio que é não ter suas expectativas respectivas, especialmente em terras que seguem regras sociais tão rigídas. E é aí que Kacey se revela como uma especialista: ela vai, pouco a pouco, faixa a faixa, descobrindo a hipocrisia da família rural americana e quão limitadora a sua experiência de vida. Escutar algo assim em 2013 é um tanto quanto chocante, não porque torna-se antiquado (o que revela-se como mentira), mas porque nunca pareceu tão abrangente na nossa cultura de massa. De repente, a melancolia de Kacey ganha ressonância no nosso senso de moralidade.
Até agora, Same Trailer Different Park é o meu álbum favorito do ano. Há uma aura de otimismo presente nele que contrasta perfeitamente com suas denúncias acerca da hipocrisia da família americana tradicional. É o tipo de disco que ganha momentum de acordo com o tempo e paciência que são dedicados a ele, não porque são growers, mas porque é um álbum tradicional até neste sentido. É como ela diz em “Back On The Map”: “something steady, something good.” É tudo o que eu peço também.
9.0 [RECOMENDADO]
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