quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Karol Conká - Batuk Freak (2013)

Gêneros: Hip Hop, World Beat
Similares: M.I.A., Flora Mattos, Lurdez da Luz, Caju e Castanha


Não adianta correr: as comparações com M.I.A. a qualquer rapper feminina que aparecer  - principalmente se tem referências mais locais -  vão ser inevitáveis. Justificável: ela marcou a música dos anos 00s ao fazer dois álbuns compententes. Não preciso me estender no que Kala e Arular representaram e representam. O fato é que sempre vamos pensar nela no que diz respeito ao hip hop com base nos samples e nas referências mais absurdas (e coesas), além da imponente figura da mulher negra, que mistura referências clubbers de uma metrópole global com batuques vindo de algum centro esquecido pelo resto do mundo. Talvez porque M.I.A. seja a figura da mulher que se lança em um universo que é plenamente hostil: nascidas no lado mais fraco das divisões de gênero, origem social e étnica, campo artístico. Já vimos essa influência com Santigold, Azealia, Angel Haze. E aqui, em terras de Emicida e Criolo (ai meus sais) - aliás, o produtor do disco resenhado aqui é o mesmo dos hits do primeiro citado – vemos Karol Conká se colocar a prova. 

Conká nos mostra a que veio com “Corre, Corre Erê”, que abre o disco e afirma muito bem os universos dos quais ela trata – o ritmo afro, a umbanda do terreiro que fica ali no fim da rua, o hiphop que passou na MTV e o computador com marca em inglês onde o amigo aprendeu a fazer samples. “O mundo é meu o mundo é seu também”, canta Karol. Ela arrisca construir e desconstruir o questionamento sobre até onde vão (e se vão pra algum lugar) as fronteiras entre local e global. 

E as polaridades são ainda mais divididas conforme o disco corre - em faixas como “Do Gueto ao Luxo”, onde ela fala de Apple, Android, Eike Batista, Zé Pequeno e Boqueirão. Ou as músicas de afirmação feminina,"Você Não Vai",  “Gandaia” e “Que Delícia”, onde manda o cara categoricamente ir lavar louça depois de uma sessão de sexo. 

Em outras faixas, “Vou Lá”, “Boa Noite”, Karol Conká usa emboladas pra falar sobre como é ligada às raízes e como isso mexe como ela – em certo ponto, uma redundância que chega a incomodar um pouco, parece que o discurso não se desenvolve. Em outras ela consegue versos excelentes, como na frenética “Caxambu”, cheia de versos tradicionais das entoadas de umbanda e ainda conta batidas tão hipnóticas quanto. Em “Mundo Loco” nós ouvimos a descrição de uma utopia, uma versão eletrônica e de ares épicos do ‘Vilarejo’ de Marisa Monte, só que aqui é cheia de referências à maconha e os pássaros cantando Erykah Badu. É, Karol Conká conseguiu fazer uma canção que poderia soar chata e piegas como a da Marisa. Mas do no caso da Conká não parece lamúria de classe-média sofre and that's an achievement.

Karol elaborou uma descrição sonora sobre ela e toda uma geração ao mesmo tempo – a garota que sai com as amigas pra avançar sobre os homens na noite sem medo de julgamentos (alô galera do slut-shaming, como vai a mamãe?) , mostra poder nas relações, é gatinha da umbanda, é das emboladas, da periferia, do hip hop, que tem smartphone e gosta de beber cerveja quente, caipirinha com aqueles corantes sabor câncer que servem nas festas juninas ou Cîroc e Absolut a preço de balada. É esse pastiche maluco que M.I.A. tanto sinalizou nos seus discos e na sua imagem – talvez por isso a comparação seja tão intensa. Duas mulheres que se lançam em um universo que é plenamente hostil.

8.3 [RECOMENDADO]

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