sexta-feira, 21 de junho de 2013

Kanye West - Yeezus (2013)

Gênero: Hip-Hop
Similares: Javé, Alá, Zeus, Amon-Rá. 




Eu não sei se Kanye West assistiu Django Livre, o western pop de Quentin Tarantino. Deve ter visto. Também não sei se ele gostou. Não importa, querendo ou não, em 2013, Kanye soa como o Django que precisamos na música pop: violento, cool e apaixonado. 

É importante perceber que dentro da narrativa do filme é necessário entender o negão interpretado por Jamie Foxx como um deus vingador acima do certo e do errado. Há muita violência em Django Livre. E, como ocorre em boa parte da filmografia recente de Tarantino, existe um roteiro todo voltado para a vingança particular do personagem. No cinema, violência justifica violência. E Yeezus é um filme.

Sabe aquela cena próxima ao fim em que Django revela um segundo revólver em resposta ao interlocutor? Os 40 minutos do disco são esse segundo revólver armado de surpresas e tiros cheios de vontade torturadora - para quem não lembra, o pistoleiro guarda a arma apenas para atirar em cada parte do corpo de Samuel L. Jackson, o negro filho-da-puta e desmerecedor do clima de redenção de Django Livre.

On Sight, a abertura, nos apresenta a incitação: "how much I don't give a fuck? let me show you right now". O que se segue a seguir é uma metralhadora de críticas à imprensa, à alguns fãs, aos usuários do instagram, ao consumo desenfreado e etc. Kanye é o pistoleiro. E ele se importa, mas dizer isso não seria cool. Apenas Django compreenderia.

Para os que chegam ao disco novo partindo do inverno doentio de My Dark Beautiful Twisted Fantasy, Yeezus parece um cenário de guerra: há guitarras ríspidas, sintetizadores pesados, TNGHT, sampler de Strange Fruit, frases políticas jogadas de forma quase incompreensível, percussões cruas. Mas há também os mesmo sinais luminosos que fazem do som de Kanye West algo estiloso, por vezes mais curioso do que agressivo: o namoro com a dance-music (a segunda faixa é produzida pelo Daft Punk, mas com a verve que falta no bocó Random Acess Memories), o choro de Frank Ocean, o senso pop incomum, a forma delinquente como West brinca com a voz melosa de Justin Vernon (o Bon Iver), e a forma ainda mais delinquente como ele usa a voz raivosa de Chief Keef.

O que não se perde do disco antigo é uma sensação de poesia intima, digitada às pressas nos 140 caracteres do twitter. Em New Slaves (um título, no mínimo, corajoso), Kanye se coloca na posição de juiz dos modos corretos, criticando o que ele considera os escravos do material e da imagem do espetáculo: capas de revistas, TMZ, redes sociais. Kanye nos coloca num estado de violência pornográfica: não há panos que cubram o sangue nas ruas.

Namorando uma das personalidades mais "complexas" e assustadoras dessa mesma geração das imagens fanáticas, ele deve se sentir ser mais oprimido do mundo. E, pelo menos nessa narrativa, é ele o certo. O errado é você que acaba de abrir um link para checar a viagem dele com Kim Kardashian pelas Bahamas (ou você que ficou revoltadíssimo com nome polêmico que eles deram à filha).

É engraçado como depois da enxurrada de ameaças e avisos de exílio ("I'll move my family out the country, so you can't see where I stay"), Kanye volta para os braços das luzes brilhantes. Num desfile de guitarras chorosas (num tom de Prince), ele convida a voz tristonha de Frank Ocean para dizer adeus a uma das canções mais agressivas do ano de uma forma melancólica e desacreditada. É como se o artista nunca tivesse deixado a ilha de 808s & Heartbreak.

Para ser deus como o título sugere, Kanye primeiro precisa aceitar o mundo que tanto despreza. E é dessa hipocrisia egocêntrica que nasce essa imagem de deus, esse avatar. Ele não se importa com o erro, a falta de lógica, ele pode e deve matar todos aqueles que se oporem. É isso que faz a metralhadora grosseira do álbum tão forte. Como comentou o Danilo em uma das reuniões secretas do 4 Track, é como se depois de saltar da janela em Power, West caísse inteiro e continuasse xingando tudo como se nada tivesse acontecido.

Kanye é Deus (agora com letra maiúscula), pelo menos nos 40 minutos de Yeezus. Depois disso, eu desligo meu laptop, volto a ser ateu e vejo Kanye West como apenas outro corajoso artista pop.

8.6 [RECOMENDADO]

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